Entrevista Dra. Susana Vargas
No âmbito do lançamento da campanha “Segurança Partilhada”, conversámos com a Dra. Susana Vargas acerca da importância da Segurança em todos os procedimentos médicos tendo em vista o bem-estar do doente e, também, do profissional de saúde.
“A segurança é a base de tudo aquilo que nós fazemos e é de facto extremamente importante quando se fala em vidas de pessoas.”
Conheça a perspetiva da Dra. Susana Vargas, Diretora do Bloco Operatório, sobre a Segurança na Saúde, dos doentes e dos profissionais de saúde.
Dra. Susana Vargas
Susana Garcia de Vargas, licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em 19 de Setembro de 1990. Ao longo do seu percurso profissional, desempenhou inumeras funções, como por exemplo, a coordenação do ensino do Internato de Anestesiologia do CHUSJ e presidência do Conselho Nacional para a Auditoria e Qualidade da Ordem dos Médicos.
Atualmente que é Diretora do Bloco Operatório Central e do Bloco de Urgência do Centro Hospitalar e Universitário de São João.
Resumo curricular
- Susana Cristina Moreira Coimbra Garcia de Vargas, licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em 19 de Setembro de 1990 .
- Docente da cadeira de Anatomia Geral no Instituto Superior de Ciências da Saúde - Norte, na qualidade de Assistente Convidado a 40%, 1992-96.
- Internato de Anestesiologia 1993-97 no Serviço de Anestesia e Reanimação do Hospital de S. João, no Porto.
- Membro da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia e do Clube de Anestesia Regional desde 1996.
- Docente no Curso Livre de Pós-Graduação “Fundamentos Científicos da Anestesiologia e Cuidados Intensivos” em Colaboração com a FMUP desde 1996.
- Membro da Sociedade Europeia de Anestesiologia em 2001.
- Entre 2001 e 2018 coordenou o ensino do Internato de Anestesiologia. Foi orientadora de formação de 8 Internos da especialidade.
- Grau de Consultora da Carreira Hospitalar em 2005.
- Fez parte de Júris de fim de Internato, de Provimento para Assistente Hospitalar e para Assistente Graduado
- Coordenou o grupo de Anestesiologia Pediátrica do CHUSJ e foi responsável pelo ensino da Valência de Anestesia em Pediatria entre janeiro de 2006 e dezembro de 2013
- É membro fundador da Secção de Anestesiologia Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, tendo feito parte da Direção durante 2 mandatos.
- Foi Gestora de Risco do Serviço de Anestesiologia do CHUSJ.
- Foi membro do Plenário da Ordem dos Médicos 2014-16.
- Representou a ACSS no Conselho Nacional do Internato Médico (CNIM) 2016-2019
- Presidiu o Conselho Nacional para a Auditoria e Qualidade da Ordem dos Médicos 2017-23.
- Entre setembro de 2017 e abril de 2018, integrou a Subcomissão 4 da Comissão Técnica 186 do Instituto Português da Qualidade (IPQ), para elaboração e aprovação do projeto da Norma Portuguesa 4547 Cuidados Continuados Integrados, a ser publicada.
- Frequentou com aproveitamento o PADIS (Programa de Alta Direção em Instituições de Saúde) em 2019
- Foi autora e coordenadora do grupo de trabalho responsável pela Norma 13/2020 da DGS – CoVid-19, retoma cirúrgica para Cirurgia eletiva
- Foi eleita para o triénio 2020/22 para a Assembleia de Representantes da Ordem dos Médicos. Integrou o Conselho Nacional da Ordem dos Médicos e foi Tesoureira Nacional para o mesmo triénio.
- É Diretora do Bloco Operatório Central do Centro Hospitalar e Universitário de São João desde 13 de Março de 2020 e do Bloco de Urgência desde setembro de 2021.
- É Fellow of clinical leadership pela European Academy of Clinical Leadership desde 2022.
Segurança em saúde
A segurança é um tema hot topic a vários níveis. Mas num contexto geral o que é que significa para si a segurança na saúde, no hospital e no bloco?
„A segurança é a base de tudo aquilo que nós fazemos e é de facto extremamente importante quando se fala em vidas de pessoas. Um doente quando entra num hospital tem como expectativa ser tratado e sair daqui melhor do que o que entrou e sem nenhum dano colateral. Nesse sentido, temos de criar um ambiente que nos permita trabalhar em segurança para o doente, mas também para os profissionais que estão no exercício da sua função. É importante que cada pessoa que está num posto de trabalho tenha consciência das suas funções e que as execute da melhor forma possível. Para tal, é necessária a formação dos vários profissionais de saúde: médicos; enfermeiros e assistentes operacionais, é fundamental ter um espaço que seja adequado àquilo que se vai fazer e, por conseguinte, ter os todos os materiais que serão precisos. Há um compromisso muito grande entre muitas partes para que se chegue ao resultado esperado.“
Portanto, admitimos que há variáveis que são, então, mensuráveis. Como mede o fator de segurança?
„Há, há variáveis que são mensuráveis. Quando nós temos um plano cirúrgico, há muitos fatores que são previsíveis. Claro que numa cirurgia, ou noutra área da medicina, há sempre um componente de imprevisibilidade, não é? Nós quando vamos operar um doente quando vou anestesiar, consigo prever certas situações que podem acontecer. No entanto, há outras que são surpresas e essas são as mais difíceis de controlar. Quando acontecem, acionamos o plano B onde temos material suplente e profissionais capazes de lidar com essas imprevisibilidades.“
E nesse sentido, acha que, por exemplo, a preparação prévia de kits auxilia?
„Sim, os kits facilitam bastantes coisas. Os kits, em termos de tempo, são fantásticos, porque nos permitem apenas pegarmos no kit ao invés de todos os constituintes. Não é? Cada kit deverá estar adequado àquilo que está programado. Quando eu pego num plano cirúrgico, tenho uma cirurgia X, uma cirurgia Y uma cirurgia Z. Eu quero o kit X, o kit Y, e o kit Z, que tem de estar pré feito. Depois tem outra vantagem, em relação à segurança, de não faltar nada, porque o kit é feito segundo regras, segundo protocolos. Estão lá todos os materiais que são precisos para determinada cirurgia e ajuda na mitigação do erro.“
Como é que as instituições avaliam a segurança e calculam o erro?
„As instituições, de um modo geral, já têm gabinetes de risco com anos de trabalho e foram evoluindo muito em relação à segurança com base na avaliação de dados objetivos. Nós temos um software próprio que existe neste bloco operatório e que qualquer coisa que seja considerada fora do standard é reportada e analisada. Já temos uma cultura de avaliação de risco e de avaliação dos índices de segurança e de qualidade.“
Literacia em saúde
Acha que, com o impacto da pandemia na literacia da população, os doentes são mais exigentes para com os profissionais de saúde? Os doentes reclamam o seu direito de participação na decisão?
„Acho a pandemia foi impactante em vários níveis e, obviamente também trouxe mais informação, mas também trouxe muita desinformação. Os doentes sentem-se cada vez mais com o direito à informação e nós temos o dever de facultar essa informação. No entanto, se por um lado a informação é benéfica, útil e é obrigatória, muitas vezes os doentes também não sabem lidar com aquela informação. Na verdade, aquilo que o doente capta nem sempre vai de encontro àquilo que é a realidade e, portanto, muitas vezes há más interpretações de informação. “
E acha que, os profissionais de saúde poderiam ter algum papel na identificação das fontes corretas de informação?
„Acho que sim. Se tivéssemos mais recursos, acho que era importante que os profissionais de saúde conseguissem fazer ações formativas para o público em geral, para os utentes. No entanto, já caminhamos muito nesse sentido. Fazemos protocolos para que na receção do doente, este seja acompanhado e seja informado de todos os procedimentos médicos. “
O que acha da existência de serviços paralelos que permitissem ao doente uma continuidade dos serviços que necessita do hospital, em casa?
„Já se está a fazer isso. Os cuidados de saúde primários têm investido muito nessa parte, e há equipas que vão todos os dias visitar doentes, principalmente, os mais idosos e que vivem sozinhos. Por exemplo, o serviço de ambulatório deste hospital já proporciona um contacto pós cirurgia permanente, durante 24 horas. Assim, fazemos com que o doente se sinta acompanhado e se sinta seguro nas horas que se seguem à cirurgia.“
O doente acaba por se sentir mais seguro em ambulatório?
„Nós cada vez fazemos mais cirurgias de ambulatórios. Aliás, é aconselhável. Caminhamos nesse sentido também pela própria segurança do doente, para não correr o risco de infeção e para estar no seu ambiente, em sua casa. Acrescenta o facto, de o doente poder contactar-nos sempre que necessita. Estamos a elaborar um inquérito de satisfação e de avaliação da segurança do doente enquanto esteve no circuito do bloco operatório, e ser-lhe-á enviado sete dias depois ter alta. Conseguimos, assim, receber o feedback do doente e percebemos aquilo que poderá ser alterado.“
Segurança no bloco operatório
Sabemos que existem recomendações que tocam vários pontos de toda a jornada cirúrgica de modo a assegurar um maior nível de segurança, nomeadamente a questão dos fármacos anestésico, os fármacos em geral, a questão de os dispositivos de utilização múltipla e o reprocessamento. Falando agora concretamente no bloco operatório, que é a área que dirige, quais são as linhas de desenvolvimento estratégicas de segurança?
„Tudo tem de obedecer às regras mais atuais de segurança. Por exemplo, a nossa central de esterilização é certificada. Nós sabemos e temos a capacidade para tratar todos os nossos dispositivos que são reutilizados. Outra das nossas preocupações reflete-se nas questões ambientais. Quando usamos produtos que não são descartáveis, também estamos de alguma forma a preservar o ambiente. Quando utilizamos materiais descartáveis, separamos os resíduos e fazemos a sua reciclagem. “
E relativamente à segurança anestésica, qual é a sua maior preocupação?
„A anestesia é das especialidades onde a segurança é fundamental. Há uma preocupação desde a entrada do doente no bloco operatório até à sua saída. Costumo dizer que a nossa especialidade da anestesiologia, é a especialidade da dose e efeito. Tudo aquilo que nós fazemos tem uma repercussão imediata e pode resultar na morte do doente se não for feita de acordo com todas as normas de segurança. Portanto, temos etiquetagem de fármacos, temos a supervisão dos fármacos, pelo anestesista, pelo interno de anestesia, pelo enfermeiro de anestesia. Fazemos a cirurgia segura.“
Contributo dos parceiros
De que maneira é que os parceiros contribuem ou podem contribuir para que se atinja os seus objetivos de segurança?
„Todos os nossos parceiros auxiliam-nos quando têm para a nossa utilização os melhores dispositivos, que nos ajudam a trabalhar com confiança e com a segurança. É bom sabermos que podemos contar com o vosso apoio para a realização do nosso trabalho colocando assim a segurança de todos em primeiro lugar.“